há de se lembrar uma coisa antes das outras: o vazio como recheio. por mais que se vá e faça e tudo o mais, por debaixo das coisas há para tal o supracitado. o nada, o toma-conta, o explosão de coisa alguma.
pegue um balão de plástico, encha de fumaça e leve-o pra passear, pelo parque, pela areia, pela calçada. o saco não há de pensar nada, por sorte dele, mas você há de pensar que ele está por gostar tanto, que você ri e chora de alegria e satisfação. a fumaça que tem dentro, excelentíssimo, se solta polui o ambiente e deixa o nariz dos transeuntes vermelho. mas eu vou ali e volto pra lhe dizer outra coisa: os passantes (os humanóides, aqueles, todos eles: nozes) querem a fumaça pra sentir ao menos o nariz vermelho. pra espécime a pior das coisas é o acontecer-zero. esse mesmo em questão. o coisa-nehuma, o
tchan tchan tchan
Nada,
que quando percebido faz o que fez na cabeça de um pobre homem apelidado pela própria mãe de Schopenhauer. a mãe dele, naturalmente.
há a necessidade do passeio antes mencionado, nas esquinas quaisquer e parques e luzes, o seu balão de plástico repleto de sua melhor fumaça, caro. ele requer a luz exterior, precisa da luz pra continuar como tal, a sua melhor fumaça. durante o passeio as pessoas e seus devidos balões fingem sorrir e triscam no seu respectivo balãozinho, tão seu. que praquele que sorri é coisa alguma. mas como saber?, se todos eles sorriem pra você e fingem triscar e passam e refletem luz. seu balãozinho nada pensa, como está claro, mas você pensa que ele está por si satisfeito. você leva outra vez a outro e outro passeio, pra esquivar-se da certeza de que de que, de que,
meu caro, o seu respectivo balãozinho não se basta, e pra ele há sempre a necessidade.
que haja a luz, refletores. ah, os refletores pro seu balãozinho cheio de fumaça, não é tudo?
Boa tarde pra você também.