domingo, 20 de março de 2011

“Quanto mais eu vivo, mais dou-me conta de que a arte só pode ser violentação. Quer dizer, é muito difícil, porque ela precisa abrir caminho, vencer uma oposição feroz. Veja, para que presta a arte, neste mundo onde ela viceja? Para nada. Ela está sempre sobrando, é a primeira a ser fulminada, durante as crises. Esse massacre vem sendo tão constante e tão brutal, no decorrer da História, que a existência da arte só se impõe pela insistência feroz e violenta do artista. Ser artista é ter a capacidade de resistir a tudo e a todos. Então, é isso que eu acabei descobrindo: ao contrário do que se pensa, a arte e o revólver deviam andar juntos, para o artista defender-se do massacre. Exatamente isso, meu filho! Os gemidos da arte combinando com o estampido do revólver. Não é de estranhar que às vezes tenha gente dando tiro pelas ruas. São os artistas, desiludidos. Quando não dão um tiro na própria cabeça, claro.”

Quem falou isso foi o João Silvério Trevisan. Onde falou isso, foi no Ana em Veneza. Um bom livro pra entender o país. Um livro que devia ser muito mais falado nas conversas de bar.