
Conecta o usb aí, Lancelot, eu preciso ouvir o álbum de Mary Chain pela quarentaeseiséssima vez, que ela me remete ao lado de lá do mar, o lado em que o escuro se forma e nutre sementes honradas pelo simples ali-estar. Quando eu sinto saudades do tempo em que eu me achava nessas escuridões, boto as músicas certas pra tocar e é como se o de-então fosse agora. Mas antes ligo o ventilador na máxima velocidade porque esses mosquitos esbarram em mim e me tiram a concentração, com eles me distraio do que já passou e acabo focando na tentativa de apanhar o zumbido em sangue de volta à mão. Lancelot, veja essa música, agora eu prefiro os temas infantis e os desenhos animados da faixa etária dos 50 anos. Porque foi lá que eu vi verdades, brincando com as crianças eu pude perceber o que é precisar de açúcar pra sorrir. E desde então é só tombada, pedras nas calçadas, corpo inclinado quase em queda. Que cisma há de ser essa que nos arrebata de volta ao irrecuperável, eu te pergunto Lancelot. Mas agora eu sei o que é precisar de açúcar. Quase que os mosquitos já se esconderam com medo do furacão que pra eles é o ventilador agindo; e enquanto eles buscam escapatórias diante dos riscos, eu te falo Lancelot, toca Sowing Seeds no modo repeat, por favor, eu sou teu convidado ou não sou. Gosto dos estalos agudos das cordas elétricas do Mary Chain porque eles me centram no escuro com uma exatidão rara. Eu me esqueço de perguntar por que; eu só contemplo – e é como que um espelho o que eu ouço