sábado, 4 de outubro de 2008

lentes com filtro

No meio do caminho uma festa de inauguração de uma loja de alguma espécie de produto fetichista (uma ótica, diga-se), bandejas flutuam, pululam vapores destilados, a cor nos copos é a mesma do sol quando se despede. Eu quis beber o sol. E você sabe o que dizem sobre negar o copo cheio de dia. Que é como negar o dia cheio de corpo - que é como acordar e rogar pragas naquilo que projetou o formato do tempo, as obrigações sociais e seus esquemas Datashow. Que venha portanto o dia em dosagem. O dia cowboy.

E o sol, e as bandejas, e as ululâncias - tudo era mesmo dentro de um Shopping. Então o negócio era fingir que estava interessado nos óculos em algum instante enquanto as atenções estavam no uísque à vontade. Irresistível o que é de graça. Dê graças aos álcoois gratuitos nas inaugurações de algumas coisas sem importância. Porque depois o olho acha mesmo tudo muito bonito. O que importa é o de dentro do copo. O que interessa é o que muda o mundo segundo a perspectiva de quem o vê. Como uma dose de sol num dia que já se foi. Ou como lentes de óculos escuros.