quarta-feira, 24 de setembro de 2008

do estado de torpor enquanto anti-natural

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O corpo aprende? Quero dizer, será o corpo capaz de ser educado - ou isso só se dá através do convencimento da mente, digo, através da argumentação, do trabalho neuronal? Porque há de ser pouco provável conseguir convencer propriamente a carne que nos compõe a se comportar de maneira diversa daquela que ela, por si, acha mais apropriado. Sim, estamos falando daquilo que é espontâneo no corpo e daquilo que gostaríamos de lhe impor. Exemplo: um corpo que, ao ser deixado à vontade, desperta às 10 da manhã e repousa às 2 da madrugada não pode ser considerado um corpo errante. Foi o próprio corpo que se achou mais acolhido em tal horário, ninguém lhe obrigou a. Contudo, se chega ao seu ouvido o despertador às 7 da manhã e exige dele o acordar precoce, o corpo, é verdade, levanta-se por obrigação, mas se ergue trôpego, sem forças, e gasta tudo o que tem para exalar o mínimo de vitalidade enquanto, deduz, deveria permanecer adormecido. À revelia, ele é o que não pode - e isso, claro, lhe faz mal.

O hamster corre na sua roda à noite porque assim lhe dita algum instinto - o qual não vem ao caso agora discutir. A barata fica lenta se lhe atiram sob a luz solar. O zumbi se levanta da tumba à meia-noite porque são as próprias partículas corpóreas que ainda lhe restam o que o faz erguer-se àquele instante.
O notívago precisa dormir até tarde porque o corpo exige - e querer educar o corpo é como usar argumentos para convencer um ser sem linguagem. É como tentar explicar pro meu cão que ele não deve latir porque incomodará o vizinho.

(mas se o vizinho é um animal noturno e tiver ido pra cama às 2 da manhã, é melhor mesmo não deixar o cão latir antes das 10)