Foi assim: no meio da festa, tumps timps tum, cervejas já haviam rolado – pagaram cerveja pra gente, inclusive. Sim, pássaros bebem cerveja. Estávamos cada um no seu transe, exibindo nossas plumas em tons de verde e azul. Competíamos com nossos antepassados, armávamos nossas caldas multicores, deixando ao nosso redor um círculo – uma multidão pasma pela presença de dois pavões naquele bar. A cabeça pra frente e pra trás, o rabo prum lado e pro outro, Ai que loucura, Ui quanta realidade esbelta, Que deus criou tamanho brilho, Mamãe eu quero um pássaro desse pra mim – eram gritos entusiasmados que ouvíamos enquanto dávamos nosso show. Uns tentavam atingir o mesmo estágio alucinado cheirando pós sintéticos; outros fechavam os olhos e fingiam naturalidade, encurvando seus devidos copos. Mas a gente sabia, a gente perturba porque a gente impera. A gente é a foz do darwinismo-antisocialista. A gente é o clímax do evolucionarcisismo. Isso, isso. Ismoismo.
Aí eu virei pra ela, botei minha asa em concha entre meu bico e o microscópico ouvido dela e disse, Vamos fazer um blogue?, lá a gente grita, cisca, faz nosso barulho abafado e, vez ou outra, expõe fotos increíbels das texturas das nossas penas. Porque é um espaço, certo? E é livre, errado? E chama a atenção do nosso próprio bico pro nosso umbigo mesmo – se for o caso de ave ter umbigo. E tudo do nosso jeito. Na hora que for. Porque, sejamos phrancos, a nossa natureza é: exibicionista.