Eu tenho vários fios de cabelo, muitos deles caem. Toda manhã eu vejo sobre o travesseiro os cabelos que me deixaram.
Eu tenho dez dedos nas duas mãos juntas. Eles não caem. Toda manhã eu vejo sobretudo os dedos que não me deixaram.
Eu tenho olhos, dois. Os meus olhos gostam de passear, eles se perdem, eles se soltam. Toda manhã eles estão novamente comigo, mas quando eu me esforço pra levantar e ir pro trabalho, os olhos grudam na cama, recusam o mundo e a luz. Tudo o que eles querem é mais nada. Abrir as pálpebras tão pesadas, não. Focar o teto infestado de sol, não. E principalmente: não ao tempo do relógio em exercício de continência.
Toda manhã os meus olhos hesitam, querem mais é o sono. Os meus olhos se cansaram de olhar. E eu, inclusive, me canso de ver.