No meu tempo, os apostadores eram cultuados como seres de coragem, virtuosos que entendiam a labuta corpulenta dos dias sem razão. Faziam-nos ver que o risco de uma aposta está para o acaso assim como o suicídio está para a lucidez. Apostadores, para nós, eram heróis que nos mostravam o tremor da carne viva. Nós acreditávamos neles e lhes pedíamos conselhos como quem reza diante de um santo vivo. E o que eles diziam era a resposta divina que precisávamos para viver, justamente o que o deus de vocês não é capaz de dar. Eles nos diziam sempre algo em louvor do imprevisto e da necessidade de abraçarmos o incerto como a única realidade sagrada.
No meu tempo, havia a quem recorrer e rezar. Já hoje, não há.