quarta-feira, 2 de junho de 2010

não há o que comemorar

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quantas pessoas vão entrar e sair da vida sem ter os meios necessários pra desfrutar da viagem? quantas nem conseguem as proteínas e carboidratos necessários ao desenvolvimento do cérebro?

o olhar pro lado e ver gente humana em condições não-humanas.
a ideia de que tantos irão passar os anos que lhe competem a vida numa pindaíba sem fim, numa privação, num não-ir, num não-mundo. qual é?

oi, você que tem muita grana, que tem já tantos itens e coisas e anseios crescentes. oi, você que acha que nunca tem o bastante. como é que você lida com o fato de que seu vizinho de chão hoje nem tem o que comer? que por exemplo nunca comeu aquela comida boa que você já manda pro lixo, de sobra?

oi, você que é seduzido pela propaganda com vendas nos olhos, oi você que tem tantas carências que compra o mundo e espera chegar via sedex. como é que fica sua cabeça quando passa dentro dela a ideia de que também tem outro ser-pessoa igualzinho a você, em atributos, mas que não teve a mesma sorte? nunca dá pra parar um tantinho e se questionar como é que faz pra dividir a sorte?

oi, você que tem um bom um emprego, trabalha pra caramba, e tem dinheiro de sobra. parabéns, todas as reverências do mundo moderno se voltam pra você. senhoras e senhores, todos de pé, ele tem dinheiro.

comprou um carro importado de seiscentos mil reais e pagou impostos, cinco minutos de silêncio.

sabe muito bem que o governo não administra satisfatoriamente a retaliação de imposto nenhum, mas isso já é outra história.

vamos falar de você mesmo, primeira-pessoa. quando é que cessam os anseios, quando é que chega o dia em que não há tanto impulso consumista pra então sobrar cinco ou dois ou um por cento daquela sua grana pra ir ali em qualquer lugar e olhar pro Outro.

qualé?