domingo, 1 de março de 2009

Contra a Tolerância nos Cinemas

Que saudade que eu tenho da aurora do meu cinema, quando as maiores perturbações consistiam em uma bala sendo apertada pelos dedos em busca do doce, em algum sujeito atrasado pelo trânsito ou em um grão de pipoca que caía no carpete. Pois pasmem, senhores: a situação piora a cada geração nessa cidade podre cujos habitantes são chamados de comedores de camarão. São eles uns adaptados ao consumo devorador de seres que carregam merda na cabeça, sem dúvida. E saibam, senhores, que ir ao cinema agora requer estóica atuação diante dos absurdos comportamentos (pasmem nº2) humanos ali decorridos. Poderia eu enumerar as gasturas sucedidas ao longo do enredo, mas a verdade é que o maior problema consiste na intensidade desses fatores, e não na sua multiplicidade.

Mencionaremos aqui apenas um fator, a dizer, “gargalhadas em momentos de extrema inadequação.” Invisto meu interesse em tal aspecto porque pretendo depositar atenção na mais concernente de todas as perturbações atuais nas salas de audiovisual. Sim, senhores, as (pasmem nº3) pessoas sentadas nas suas poltronas agora encontraram a válvula do riso grotesco em cenas de peso dramático para o desenrolar dos acontecimentos. Risos quando a personagem faz um aborto e morre. Risos quando o marido, histérico e perdido, levanta o punho carregado de ira para socar a própria esposa. Risos quando o louco da estória – declarador de verdades por excelência – despeja suas sentenças opacas sobre a consciência dos demais homens comuns.

Admito que minha primeira justificativa para tal fato foi a má-educação dada a esses (pasmem nº4) indivíduos comedores de camarão. Pensei na falta de esclarecimento sobre o real direito de livre pensamento humano, lição ausente em todas as escolas dessa cidade, entupidas de educadores caquéticos. Levei em consideração a educação familiar quadrilátera que o nordeste insiste em não admitir.Levantei a tese de acordo com a qual todos ali estão por demais habituados às músicas dramáticas de fundo das novelas dando-lhes o norte para tais e tais emoções serem exercidas. Lembrei-me da falta de opções que tais consciências têm na hora de exercitarem seu poder de elasticidade. Mas fui rebatido por um argumento de maior força porque profundamente pessimista: as pessoas pagam para ir ao cinema, não conseguem absorver qualquer interesse sobre o enredo e decidem tirar algum proveito do fato de terem pagado por aquilo, resolvendo então estimular suas glândulas sebosas em risos deslocados. Para eles, vale a atualmente recorrente afirmativa “tá no inferno, abraça o capeta.”

Diante de tal perspectiva, “vazia e sem esperança”, como protestou o louco no filme, declaro aqui aberta a caça aos subhumanos.

- Senhores e madames, lustrem suas espingardas, lubrifiquem os canos dos seus rifles, carreguem-se de munições diversas e dirijam-se ao cinema mais próximo. E não se esqueçam de, após a chacina, declararem à mídia que fizeram aquilo em nome da campanha de fim às submentes e desistência da tolerância.