Na cidade as cores em geral são insuficientes pra estabelecer algum prazer menos breve do que um milkshake. A alegria não atravessa o canudo. O contentamento não se prende ao copo. Aliás, dificilmente algo será suficiente na cidade. O espresso é pequeno, a livraria é tamanha, a faixa de pedestres é apagada, o caminho é demorado. A saída não é por aqui. A cidade quer me expulsar.
É preciso muito, é precário tudo, é capaz de o asfalto me engolir no meio do escuro e me vomitar sob o viaduto canal do baldo adentro. E as luzes dos postes não projetam qualquer escapatória.
É preciso andar com escudos contra raios doentes, porque a cidade é árida mas propaga suas pragas. Cabe a mim me proteger - capuz, armadura e outras armadilhas que me tolhem mais do que me permitem. A cura é do lado de fora. Não pode haver aqui um desvio sequer.
Eu procuro uma saída e não acho. Mas a saída já é lá fora.
Eu quero um canudo pra extrair alguma calma. Ou uma passagem de volta.
E poder me desarmar.