sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Metaleiro de Shopping

Uma revolução se dá internamente. E apesar dos desdobramentos sociais, a transformação ocorre do lado de dentro, por trás das peles. Se bem que é justo também citar a importância dos fones de ouvido nesse processo.

Fones de ouvido, headphones, fones de cabeça. Fontes.

Porque é possível ser mais revolucionário quando, na praça de alimentação de um Shopping – cheio de inocentes, como o céu se supõe –, você põe os fones nos ouvidos e, enquanto pré-adolescentes da classe C se disfarçam em tênis Nike falsificados, escuta a música que diz

“ahhhhhhhhhhhhhhhhh ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh.”

Sim, senhor, a música é simplesmente grito. Enquanto isso, madame leva o sushi à boca na mesa ao lado das pré-adolescentes e você, pelos ouvidos, berra – e se for o caso, dança em frente à Churrascaria de Meudeus e manda ver no refrão, fazendo o já clássico movimento de sobe e desce da longa cabeleira. E ninguém haverá de te prender por isso, por uma revolução puramente interna com sintomas de delírio. Aliás, o único desvelamento da tua revolução é uma camiseta de Ozzy Osbourne, aquele mesmo que, hoje em dia, tem um programa na TV. E por uma simples camiseta, junto a um sobe e desce de cabeça, meu caro, nenhum policial irá te tolher. Por outro lado, basta que você atire um mero molotov no fast food mais próximo para que venha a cavalaria armada de ódio e algemas. Escolha bem, então, as tuas vias revolucionárias. Pondere e veja o que mais transfigurará os que habitam esse mundo fora do teu corpo. E grita mesmo - mas pelos ouvidos, porque você é um revolucionário civilizado.