quinta-feira, 16 de outubro de 2008

- E ela ficava tão nervosa com a amiga. O diretor consegue transmitir o nervosismo tão bem, e a gente vai junto.

dizia-me Tia no ponto às 11 da noite. Meu ônibus demorando meia hora a mais, as agonias de me abrigar já se fortaleciam em ver a hora pedir carona na BR mesmo. Leve-se em consideração a minha jornada tripla das quintas-feiras e dará então pra entender que eu estava a ponto de ir pra casa a pé. Mas enquanto Tia me contava do filme fantástico de ficção científica exibido à tarde no Belas Artes, a barata ia subindo lentamente a blusa dela. Aquela mancha opaca em plena brancura, uma mancha móvel ligada ao mundo em antenas; e eu sabia da fobia de Tia no que se refere a insetos detentores de antenas, os tais coitados condenados à sujeira, tão inocentes, tão descriminados mas tão captadores de ondas eletromagnéticas, eles, elas, as baratas. Na blusa de Tia. Ia mesmo. Pra cima dela, já quase na nuca. Espia.

- A direção de arte me deixou pasma. Incrível.

e eu me deliciando com o previsto momento do grito. O salto púlpito, o nojo da própria pele então tocada pelo ser previamente imundo. Aquela barata comera migalhas dos sanduíches rote dogue de Seu Homem, fiapos de carne deixados nos palitos dos churrasquinhos de 1,80 o par. Aquela barata comera a pele de quem esperara mais de meia hora por seu ônibus às 11 da noite. E foi quando o próprio meu transporte se deixou avistar lá da frente. Hora de ir embora.

- Tia, olha, nos teus cabelos, uma coisa.