sábado, 30 de agosto de 2008

o deus anti-séptico

Dar vozes a quem não tem vez era o meu trabalho. Eu nasci pra isso. Dar a cada um aquilo que deus não dera. Fui criado para consertar seus laicos esquecimentos. E eu gostava do que fazia. Eu era deus de milagres. Dava vezes a quem não tinha voz.

Eu cheguei pra mudar o mudo e disse, Fala, me diz o que você quer. E ele disse, Eu quero voz. E teve voz. Eu vi o cego e disse, Olha aqui. Ele me viu. Eu passei pelo paralítico e disse, Anda logo. E ele foi. Mas quando eu cheguei no Cortiço Azul, quando eu vi Bimba batendo na porta de Candeia, eu abri minha cara e fui direto nele a punho, pimba no Bimba. Eu disse, Filho da puta, puta que é puta cospe depois de te lamber, e Candeia faz tempo que já te cuspiu, tu vai é ver o demo, mas antes grita, vê a cor da dor, seu merda. O Bimba gemia. No que pensava? Em acordar?

Deus me mandou nascer pra curar o mundo. Eu faço a limpeza, ajeito o que tem jeito e acabo com o que não presta. O Bimba só presta morto.